quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Relato de Jacqueline Martins Osório - Dança cigana



"Quando entrei na sala onde estavam dançando pude perceber imediatamente as grandes saias rodadas e coloridas que as alunas da dança utilizavam, e como nunca havia visto sequer uma foto de vestes ciganas antes estas saias imediatamente prenderam minha atenção. Peguei minha câmera e comecei a tentar flagrar um desses movimentos rápidos e repolhudos que elas fazem, puxando a saia com as mãos de modo que ondulem e formem desenhos bonitos no ar. Infelizmente, a câmera não conseguiu pegar com exatidão nenhum desses, mas vislumbres próximos podem ser vistos em algumas das fotos nos anexos.
Como estavam ensaiando uma coreografia para uma apresentação que seria no dia seguinte os movimentos feitos por cada uma das bailarinas eram quase sempre iguais. No entanto, a professora Silvia Bragagnolo nos disse que uma marca da Dança Cigana é a liberdade de expressão, o improviso, e me pareceu que nas aulas ela ensina às alunas as técnicas e as deixa inventar livremente seu repertório, até que improvisar se torne algo cômodo a elas. Um dos objetivos da dança me pareceu, depois de poucas conversas entre alguns grupo, a manipulação das energias do ambiente, um traço do misticismo cigano que parece se fazer presente nessa prática. Li em algum texto sobre como elas rodam por vezes para a direita e então para a esquerda, para assim equilibrar as energias do ambiente.
Durante toda a aula estive a tirar fotos e a fazer anotações de minhas impressões a cerca do que via. Pareceu-me uma dança através da qual as bailarinas expressam autoconfiança, domínio, força e certo senhorio. Em alguns momentos a professora Silvia chamou a atenção de uma aluna que se apresentava mais tímida em relação ao grupo, pedindo que ela “aparecesse mais”, que se impusesse na dança. E me pareceu também que ao mesmo tempo é uma dança sensual, ardente, misteriosa, mas muito feminina. Para mim foi encantadora em todos os aspectos, seja no rodar das lindas saias coloridas (o que em minha opinião é o principal chamariz de toda a dança), seja nos gestos delicados de rodar o pulso, de encarar a “platéia” de frente, com determinação e até certa ousadia, de mexer os ombros, um de cada vez, para cima e para baixo, enquanto os braços mantêm-se fixos um pouco abaixo dos ombros. Seja nos giros rápidos e inesperados, mas que parecem fazer todo o sentido quando completos, na inclinação dissimulada do corpo, que quando se espera que siga para um lado de repente volta, para repetir o mesmo no oposto. É uma dança que exprime felicidade constantemente, que tem o poder de mudar seu estado de espírito quando você se entrega ao que vê.
Apesar de a turma aparentar estar em nível intermediário e já ter certo domínio sobre as técnicas, nada me foi tão marcante quanto as exibições da professora Silvia. Lembro de estar tirando foto de uma determinada bailarina quando de repente algo passou por mim fazendo estardalhaço, e quando levantei os olhos me deparei com Silvia indo assumir sua posição entre as bailarinas dançando vigorosamente, e me recordo de ter pregado os olhos nela a partir de então. Não fosse o decoro, teria passado a tirar fotos apenas dela dali em diante! Essa característica de dançar a qualquer momento foi algo que a professora frisou em nossas conversas, que “cigano dança a qualquer hora e por qualquer motivo”.
Como já mencionei, naquele dia as garotas estavam ensaiando para uma apresentação, e por esse motivo nos mantemos apenas nos “bastidores” durante toda a aula. Já quando fui assistir a outra dessas aulas no sábado seguinte, a professora Silvia fez questão de me por dentro de uma saia e ir treinar com elas, para que só através das observações visuais eu não me enganasse que aquela era uma dança simples de ser dançada (o que não era exatamente o que pensava).
Só para situar, quero frisar que minhas experiências com dança se resumem a cerca de três meses de ginástica rítmica na quinta série (uns sete anos atrás, só), e que portanto não importava que tipo de dança fosse eu sempre acharia difícil.
Coloquei a saia e, com toda a minha sorte de iniciante, comecei a tentar imitar os movimentos com leques que elas faziam. Leques. Muito difícil. Começamos acho que com um breve aquecimento, girando o leque com os punhos, abrindo e fechando eles, acima da cabeça ou do lado do corpo, e por aí vai. Mesmo se ignorar minha péssima forma física, de quem não se envolve com esportes a mais de um ano, acho que meu primeiro contato não foi lá dos melhores, e quando ela pediu que passássemos a improvisar eu saí para tirar minhas fotos com a certeza de que aquela não era uma dança simples! Durante o resto da aula elas então treinaram seus movimentos com leque e ensaiaram outra coreografia com os mesmos, que a princípio deu um certo trabalho para casar os movimentos com o tempo da música, o que também proporcionou alguns momentos de descontração bem divertidos.
E, para concluir, essa minha breve experiência com a dança cigana com certeza deixou um gostinho de quero mais, e mal posso esperar para ver outras apresentações delas - esqueci de comentar que assisti a apresentação para a qual elas treinaram na primeira aula. Às vezes sem querer nos deparamos com coisas maravilhosas das quais ignorávamos completamente, e tenho muito a agradecer a esse trabalho por me permitir conhecer um pouquinho mais sobre os ciganos e a me encantar imensamente com a sua dança!"

2 comentários:

  1. Me surpreendeu o relato... simplismente maravilhoso...só tenho a agredecer por ter colaborado com Jacque para sua pesquisa
    Silvia

    ResponderExcluir
  2. Jacque, adorei o relato, obrigada pelo carinho com o grupo.
    Venha fazer parte dele tb, apareça mais vezes nas aulas.

    ResponderExcluir