terça-feira, 20 de setembro de 2011

Domínio Cigano II - 2011

O Texto Fantástico de Fernanda Furini, para acesso de todos ao seu enorme talento. Palavras interpretadas por Nina Medeiros, estudante de Artes Cênicas, integrante como bailarina do Grupo Domínio.


Agradecimento de todo Grupo pelo talento de duas amigas (Fernanda e Nina), unido ao esforço e encantamento do bailado Domínio.

SOU CIGANA... E GRITO! E se grito é para que meu grito, seja a revelação deste infinito, que eu trago encarcerado em minha alma!
Veja... As estrelas apontam-me o caminho do futuro imprevisto que aguarda a minha ida. Não tenho medo da vida... Sigo sem contar os passos!
Na vastidão das léguas que se perdem, vou pintando o mundo com as cores da minha alma, e abrindo caminhos com o tilintar dos meus colares!


Ofereço nestas flores, parte de meu povo, para que sintam o aroma único daquilo que nem o vento leva!



A liberdade que decora as nossas almas com flores, não será jamais vencida pelo aço do ódio ou pela frieza da tirania.
Somos a dança do fogo em tempos de guerra, mas jamais a lança que mata ou a tocha que incendeia.
O fogo sentimental, quando se acomoda na alma, ali fica, como uma dor sob anestesia, presa em um guiar dorido... Mas nossas armas continuam postas... São as cores que ofuscam, e o pulsar em busca de paz.
Nossos sapatos pisam firmes na cara do mundo, e dançam, pulam, dilaceram as revoltas... Não perdem o rumo, mesmo encontrando descaminhos, onde sempiternamente a liberdade persegue.


Todo ardor cabe sim, na breve arca de um peito cigano.
O ar sereno que equilibra a minha alma ecoa com desassombro a firmeza do meu leque.
Meu equilíbrio posto na palma de minhas mãos e cabe a mim decidir com quem perdê-lo.
O vento que chega impulsivo e balança meus cabelos, alimenta o meu fogo íntimo... Então tomo meu leque, como o soldado a sua espada, e preparo-me, a meia luz, para expor-me, na mais alta expressão da natureza em movimento, com meu próprio corpo.
Danço e mostro-me, com a firmeza de meu coração, que pulsa ao som do meu leque.



AMO...e este amor inflama. Juraria pela lua, se a mesma não fosse tão inconstante, a ponto de mudar o seu contorno com os meses.
Vens do secreto e me tomas, e eu, nas dormências nervosas do sombrio, desperto. Desperto sentindo o aroma da tua alma, que traz o enflorescer das vinhas.
Este é o momento para entrar sereno e majestoso em um mundo estranho de esplendor. Ei-lo do amor o cálice sacrossanto, bebe-o feliz... Em tuas mãos entrego.
Abra o coração à mim e fique muda(o).
FUJAMOS!! Vamos por estas cordilheiras... Põe teu vestido e coragem, e vem comigo.
Dentre as águias e as chamas feiticeiras. Rasgaremos florestas, andaremos o espaço todo desta terra, e transfiguraremos em astros.
Ahhh... E não se esqueça de trazer seu coração perfeito...!

Creio com envergonhada certeza, que todas as músicas da alma cantadas por meu povo, já estavam prontas poeticamente em mim!!! Creio com orgulhosa certeza, que a dança dos meus antepassados, já bailava aflitiva e eufórica sobre a minha alma que estava ainda por eclodir cigana!
Carrego no coração a saudade feliz de quem fui através dos que já partiram. Orgulho-me das cores do meu povo, das músicas do meu povo, do olhar do meu povo, que mostra através de um impulso de oculta mão, as certezas de uma vida plena, e vivida com uma feliz e encantadora incerteza!
Orgulho-me da alma poética coletiva, que traduz em cada verso, os sentimentos de um povo inteiro.

Morte... Antagonismo medonho!!! O fim da orgânica batalha, e o renascer do sol interno imorredouro!
Morte... Não és o último ato!!! Mereces uma breve despedida e talvez um apito de partida!
A sensação que nos toma é aquela do último olhar, é aquela do som do galope que se perde na imensidão... E cessa!
Nosso coração se parte na queda, como a réplica barata de um vaso caro. Esta saudade sentida e sem sentido... Este silêncio que se torna caos, este fogo que nos abrasa...
Nossa força reluta, mas continua força, portanto, dançaremos para ti... Grande incógnita que desola! Nossas cores cobrirão o luto, e nossos sapatos calarão o silêncio que devasta o riso!

A vida... Observo-a, sinto-a, percebo seus pormenores, constato os seus “por enquanto” que por vezes são meros segundos, mas de eterna significação.
Como quem deita ao colo de alguém, e ouve a meiga prece de um coração que está de luto, eu pego o meu punhal... Sinto a sua energia incompreendida, e compreendo-a... Ouço a sua prece, e é a prece de uma energia inerte, implorando um emprego para a sua existência tão dependente, tão sujeita a vontade humana...
Respeito a vida, e tudo o que pode feri-la... Respeito o coração forte, que ousa ser uma partícula positiva em meio a imensidão... Que se contenta em usar a energia alheia corajosamente para a alegria.

Meus passos carregam a força mística de um devotamento desprovido de dogmas racionais.
Danço por que conheço a beleza oculta do dançar. Sorrio largamente, porque respeito o tempo... Considero o hoje, o dia mais feliz.
Alegro-me com as minúcias da vida percebida... A aurora que chega timidamente, e que aos poucos devasta a escuridão, na mesma intensidade da minha dança cigana, que inicia sedutoramente contendo o fogo que me abrasa no final.
Danço... Liberto-me... Liberto-me... Liberto-me...

2 comentários:

  1. Mas um momento especial na vida das alunas do grupo Domínio!!! Quem participou da II Mostra de Dança Cigana sabe do que estou falando. Tudo contribuiu para sair um lindo espetáculo. Meus aplausos a Fernanda por contribuir com um belo texto... ( a qual já vem participando desde a I Mostra); a Marina (nossa Nina) por deixar esse texto mais vivo do que nunca; as alunas que aceitaram a vivenciar esses 3 dias de muita emoção, alegrias e "frio na barriga"; aos bastidores (arte, divulgador, iluminador, som, etc, etc); aos nossos familiares e amigos da dança e é claro, nossa "diva" coreógrafa e professora Silvia Bragagnollo, sem ela não teriamos esse lindo trabalho, feito com tanta dedicação, amor, criatividade e amizade. A todos meu carinho a admiração. Grande beijo e até a próxima.

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  2. EU so tenho que agradecer pelo grande trabalho, pelo carinho e dedicação que fazem quando se apresentam e dão vida a nossa musica, dão movimento aos nossos acordes e como mágica fazem um espetáculo único. Parabéns Silvia pela criatividade e o amor que coloca em suas coreografias , fica o meu depoimento em nome da banda Guardiões da Noite .Um grande beijo a todos

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